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Vermeinho e eu saímos para caçar passarinho. Naquela época era permitido porque outrora isto não era pecado. A gente caçava para comer os indefesos pássaros, assadinhos e com farinha de mandioca. Vai daí que chegamos na beira da barragem do Açude da Leste. Lá encontramos três pescadores. Estou falando de Tonho Perrenche, Ovídio Pandeirista e Quenguerengue. Segundo relato de um deles, já estavam ali desde o dia anterior. Já tinham tomado umas e outras e pescado algumas traíras, muitas piabas e alguns jundiás.
Eu me aproximei do grupo e ouvi Tonho Perrenche contando para os outros o que tinha presenciado na noite anterior.
A prosa foi a seguinte: “eu estava aqui com o meu anzol e minha pinguinha na outra mão, quando ouvi, com estes ouvidos que a terra há de comer, uma conversa entre um escorpião e um sapo cururu.
O escorpião se aproximou sorrateiramente do sapo e disse:
– Sapinho lindo, você me carrega até a outra margem do rio?
– Só se eu tivesse o miolo mole. Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar.
– Isto é ridículo, retrucou o escorpião. Se eu picasse você, ambos afundaríamos.
Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.
No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: “Por quê? Por quê?”
O escorpião respondeu: Porque eu sou um escorpião e esta é a minha natureza.
Esta fábula está sendo reproduzida, porque eu tenho me perguntado: Será que a morte não cansa de trabalhar? Vejo os meus colegas de profissão, bem como os demais profissionais da área de saúde, à beira da exaustão. Ela, pelo contrário, trabalhando dia e noite com o seu cutelo afiado. Não consigo entender, como ela ainda arruma tempo para afiar o cutelo.
Quem me conhece sabe que eu sou do bem. Confesso que, num momento de tristeza, eu pedi para que a morte morresse. Pedi com muita fé. Até o momento, nenhum sinal de que ela possa me atender. Acho que, talvez, como o escorpião, esta é a natureza dela.
Acredito que o melhor mesmo é nos protegermos. Distanciamento social, álcool em gel para lavar as mãos, máscara e outras medidas já conhecidas por todos, enquanto a vacina não contempla todo mundo.
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Por: Adaelson Alves Silva
Observação: O colunista Adaelson Alves Silva é piritibano e atualmente ele reside no Estado do Paraná, onde é médico nefrologista. Ele está produzindo uma série de crônicas para o Blog do Adenilton Pereira que serão publicadas sempre às terças-feiras. A colona produzida por Dr. Adaelson tem o nome de “Um Dedo de Prosa”.
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