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Os tempos são outros. Um poeta disse: “hoje não tem dança, não tem mais menina de trança, nem lança perfume no ar”. Discordar do poeta? Posso não, amigo. Talvez relembrar de outras coisas. E eu me lembrei do circo, que quando chegava na cidade era motivo de júbilo para toda a população. Vou contar um pouco do que eu me lembro daquele circo, em especial. Era o circo de Zé Bezerra. Vamos aos fatos.
O circo chegou em cima de vários caminhões, que traziam além do dito cujo, a sua trupe, formada por trapezistas, palhaços, malabaristas, anões, leões, macacos, cachorros adestrados e as rumbeiras. Vou pular muita coisa para dizer que eu me encantei com uma rumbeira chamada Luna Lai. Loira e de corpo exuberante para os olhos de garotos cheios de hormônios.
Naturalmente nós também ajudamos na montagem do circo e como troca ganhamos o direito de assistir a um espetáculo. Dedeco, meu primo, trabalhou e na noite do espetáculo ele ficou dodói. Acho que pegou varíola. Ele então cedeu o seu bilhete para o nosso grupo. Depois de uma boa discussão, resolvemos dar para Cotoco, o direito de participar do espetáculo.
– Quem era Cotoco? Perguntou uma amiga que está nos lendo.
Cotoco era uma criança que nasceu sem os pés e os braços. Morava na ladeira do cemitério, onde também morava Maria cabeção. Apesar do aleijão de nascença, Cotoco era um menino alegre. Quer dizer, não muito triste. E parte da sua alegria estava na nossa amizade. Sempre que podíamos levávamos Cotoco para participar das nossas brincadeiras. Ele tinha uma vista boa e assim podia acompanhar as nossas travessuras. Pois bem, o ingresso de Dedeco foi transferido para Cotoco, que foi ao circo com a gente, naquela noite. Colocamos o amigo na arquibancada, próximo de nós.
No meio do picadeiro, o domador mostrava a sua intimidade com o rei leão, quando, num descuido, a fera escapou e foi para cima do povo. Correria geral, pânico, gritos histéricos. Muitos, ao verem o deficientes jogado ao leu começaram a gritar:
– Olha o aleijado, olha o aleijado, olha o aleijado.
Cotoco bem que tentou fugir. A sua reação foi gritar com toda força da garganta e do peito:
– Vão todos se fu** e tomar no c*, seus filhos de uma beroba. Deixem o leão escolher sozinho.
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Por: Adaelson Alves Silva
Observação: O colunista Adaelson Alves Silva é piritibano e atualmente ele reside no Estado do Paraná, onde é médico nefrologista. Ele está produzindo uma série de crônicas para o Blog do Adenilton Pereira que serão publicadas sempre às terças-feiras. A colona produzida por Dr. Adaelson tem o nome de “Um Dedo de Prosa”.
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